A direita fala de despesismo e da ameaça de novo resgate. E
valem argumentos contraditórios; Portas ridiculariza a verba que os pensionistas
vão receber, porque é demasiado pequena, mas logo a seguir alguém diz que o
orçamento do Estado vai estar perigosamente em risco com o despesismo sem
controlo que aí vem, prenunciando um novo resgate.
E antipatrioticamente gritam aos quatro ventos o risco que
os investidores correm. São os jornais, afeitos na sua maioria ao
neoliberalismo, é Paulo Rangel no parlamento europeu. Há realmente um risco
real de os investidores se assustarem, mas é a direita que o está a provocar ao
transmitir para o exterior a sua visão da catástrofe que se avizinha. Os
matemáticos dizem que a Economia é um sistema caótico de tipo 2, querendo com
isto dizer que as previsões que se fazem vão influenciar os resultados. E
parece ser esse o objetivo da direita:assustar os mercados para depois assustar o cidadão e influenciar o
seu voto no futuro.
Ao fim de quatro anos em que a narrativa do défice serviu
para retirar poder de compra aos portugueses, é mais que altura de recompor as
coisas. As famílias e as empresas estão endividadas: a divida dos particulares
representa 98,5% do PIB e a das empresas 182,6%. Ou seja é mais perigosa esta
divida que a divida publica (148,2% do PIB). É usual comparar a nossa situação
com a Grécia, dizendo que Portugal está melhor. Não é inteiramente verdade. A
divida publica portuguesa é menor que a grega, mas a privada é muito superior. Muito
dos esforços para reduzir a divida publica, retirando dinheiro da economia, têm
feito aumentar a divida privada.
Quando se mexe numa variável económica há implicações em
todas as outras e o mérito de uma projeção macroeconómica está na determinação
dos “multiplicadores”, indicadores que medem o impacto de uma mexida numa
variável nos resultados do orçamento. Por exemplo, se se aumenta a pensão de
uma pessoa carenciada, ela terá grande propensão para consumir no comércio
local. Parte desse dinheiro reverte imediatamente para o Estado sob a forma de
IVA. O fornecedor, se a procura for significativa, poderá empregar alguém que
estava desempregado, que deixará de receber subsídio de desemprego – economia para
o Estado - e passará a pagar impostos e a descontar para a segurança social. Portanto
a perda de receita inicial do Estado pode ser compensada e até suplantada. O
cenário macroeconómico apresentado pelo PS foi elaborado por um economista que
é doutorado por Harvard, e quadro superior do Banco de Portugal, portanto
merece, pelo menos, algum respeito. E é inadmissível pensar que os “multiplicadores”,
que ele utilizou no cenário, não tenham sido determinados com máximo rigor.
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