segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Quem chamou a Troika? (Só mais uma achega...)

Sejamos claros: Quem assinou o acordo foi o governo de José Sócrates. Quem desejou a vinda da troika foi o PSD de Passos Coelho. Portanto a resposta depende: quem valoriza o formalismo dirá que foi Sócrates, quem valoriza a substância dirá que foi Passos. Recordemos alguns factos passados nesse ano de 2011:
No principio de Março, os juros da divida publica a dois anos andavam perto dos 5%. Quando o PSD dá mostra de não viabilizar o PEC4, os juros sobem para mais de 6%.
No dia 23 de Março, o Parlamento rejeita o PEC4. Os juros da divida publica sobem para mais de 8%.
No dia 31 de Março, Passos Coelho escreve a Sócrates e a Cavaco defendendo o pedido de resgate. 
No dia 4 de Abril, os banqueiros portugueses reuniram-se primeiro com o governador do Banco de Portugal e posteriormente com o Ministro Teixeira dos Santos, insistindo na necessidade do resgate.
No dia 6 de Abril, Sócrates decide ceder à pressão de todos, incluindo Mário Soares e anuncia ao país o pedido de resgate.

Histeria à Direita

A direita anda de cabeça perdida. A comunicação social anda num frenesim, procurando registar os depoimentos de todo bicho careta que entende argumentar contra este acordo. De repente Sérgio Sousa Pinto é relevante. Zorrinho tornou-se num esclarecido. Até foram ressuscitar Mário Soares com o seu célebre debate com Álvaro Cunhal para demonstrar que o (agora) bem comportado PS está a ser desviado pelo ambicioso Costa fazer uma ligação com um partido Estalinista. Dir-me-ão: A comunicação social fez exactamente o mesmo quando põe Ferreira Leite e Pacheco Pereira a criticar o PSD. Talvez…Só que vejo racionalidade em Pacheco Pereira e não a encontro nos argumentos de quem se opõe ao acordo. Que tipo de argumentos são estes? 1 – A questão da legitimidade. A constituição da república permite este tipo de solução. As eleições têm o nome de eleições legislativas e não eleições governativas. Estamos a escolher deputados para o Parlamento, não estamos a escolher um governo. E como é sabido, soluções deste tipo são comuns no Norte da Europa. 2 – A questão da estabilidade A estabilidade governativa é um requisito muito do agrado do Presidente da República. Terá as suas razões. Mas essa estabilidade só é possível com a única maioria possível nesta conjuntura e essa concretiza-se à esquerda. 3 – A questão da forma como o PS se apresentou às eleições É um facto que, durante a campanha eleitoral, o PS não declarou publicamente que pretenderia fazer uma aliança à esquerda caso não ganhasse as eleições. Não o poderia fazer! A expectativa era a vitória e não conjeturar outras hipóteses. Também é conhecido que nas últimas eleições o PSD e o CDS concorreram sozinhos, tendo depois alcançado um acordo entre ambos. 4 – A questão dos “perigosos comunistas” que são contra a Europa e a NATO Estes perigos são imaginários. Tanto o Bloco como o PCP sabem que estas bandeiras não passam de folclore, símbolos vazios de um passado que nunca será futuro. Servem apenas para manter uma coesão dos militantes, unindo-os em torno de objetivos que a história já fez o favor de enterrar, e que, como se viu com o SIRIZA na Grécia, na hora de verdade, são descartados. Na minha opinião é muito positivo que estes dois partidos já tenham declarado publicamente que estão dispostos a não pôr esta matéria em cima da mesa. A direita deveria entender que a melhor forma destes partidos fecharem no baú das recordações do “soixante huit” algumas pretensões tipo “Sejam realistas, Exijam o impossível” era deixar a aliança de esquerda governar. Uma vez essas pretensões descartadas por motivações tácticas, já não regressam.