quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A Zona Euro anda mal de saúde

O DESEMPREGO NA EUROPA
A zona euro não está a saber lidar com o problema do desemprego. Se verificarmos no gráfico seguinte a zona Euro tem um desempenho manifestamente pior que a União Europeia a 28. As coisas começaram a correr mal para a zona Euro antes da grande crise financeira de 2008 e, quando em 2013 o desemprego começou a baixar, ele baixa mais rapidamente na Europa a 28. 



A resolução deste problema passa por uma atitude diferente relativamente ao rigor orçamental, que devia possibilitar politicas moderadamente expansionistas, pondo de lado o papão da inflação. Medo esse que é completamente injustificado. A massa monetária na Europa que teve uma queda acentuada após 2008 tem aumentado timidamente graças às politicas do BCE que tem injectado dinheiro na economia. Porém em 2005, a curva permanece num patamar que não se compreende. 




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Acudam! Um governo de esquerda vai trazer um novo resgate!

A direita fala de despesismo e da ameaça de novo resgate. E valem argumentos contraditórios; Portas ridiculariza a verba que os pensionistas vão receber, porque é demasiado pequena, mas logo a seguir alguém diz que o orçamento do Estado vai estar perigosamente em risco com o despesismo sem controlo que aí vem, prenunciando um novo resgate.
E antipatrioticamente gritam aos quatro ventos o risco que os investidores correm. São os jornais, afeitos na sua maioria ao neoliberalismo, é Paulo Rangel no parlamento europeu. Há realmente um risco real de os investidores se assustarem, mas é a direita que o está a provocar ao transmitir para o exterior a sua visão da catástrofe que se avizinha. Os matemáticos dizem que a Economia é um sistema caótico de tipo 2, querendo com isto dizer que as previsões que se fazem vão influenciar os resultados. E parece ser esse o objetivo da direita:assustar os mercados para depois assustar o cidadão e influenciar o seu voto no futuro.
Ao fim de quatro anos em que a narrativa do défice serviu para retirar poder de compra aos portugueses, é mais que altura de recompor as coisas. As famílias e as empresas estão endividadas: a divida dos particulares representa 98,5% do PIB e a das empresas 182,6%. Ou seja é mais perigosa esta divida que a divida publica (148,2% do PIB). É usual comparar a nossa situação com a Grécia, dizendo que Portugal está melhor. Não é inteiramente verdade. A divida publica portuguesa é menor que a grega, mas a privada é muito superior. Muito dos esforços para reduzir a divida publica, retirando dinheiro da economia, têm feito aumentar a divida privada.

Quando se mexe numa variável económica há implicações em todas as outras e o mérito de uma projeção macroeconómica está na determinação dos “multiplicadores”, indicadores que medem o impacto de uma mexida numa variável nos resultados do orçamento. Por exemplo, se se aumenta a pensão de uma pessoa carenciada, ela terá grande propensão para consumir no comércio local. Parte desse dinheiro reverte imediatamente para o Estado sob a forma de IVA. O fornecedor, se a procura for significativa, poderá empregar alguém que estava desempregado, que deixará de receber subsídio de desemprego – economia para o Estado - e passará a pagar impostos e a descontar para a segurança social. Portanto a perda de receita inicial do Estado pode ser compensada e até suplantada. O cenário macroeconómico apresentado pelo PS foi elaborado por um economista que é doutorado por Harvard, e quadro superior do Banco de Portugal, portanto merece, pelo menos, algum respeito. E é inadmissível pensar que os “multiplicadores”, que ele utilizou no cenário, não tenham sido determinados com máximo rigor. 

domingo, 8 de novembro de 2015

There Is No Alternative??

Durante anos e anos, sucessivos governos, nacionais e estrangeiros, foram explicando a quem os queria ouvir que tínhamos criado um Estado social insustentável, nos tínhamos todos endividado para além de limites razoáveis, e que agora, para retomarmos o caminho da prosperidade, não havia outra solução que não fosse reduzir as despesas públicas, desregulamentar os mercados financeiros, liberalizar o comércio externo, criar condições cada vez mais propícias ao investimento estrangeiro e abolir as participações do Estado nas empresas públicas, que, já se vê, teriam de ser privatizadas. Tudo isso, naturalmente, tinha de ser acompanhado por um certo número de receitas infalíveis: diminuir os direitos dos trabalhadores, reduzir a segurança no emprego, eliminar o carácter gratuito – ou mesmo tendencialmente gratuito – do Serviço Nacional de Saúde e da Educação, congelar pensões sociais, etc. E tudo isso porque... Não há alternativa.
There Is No Alternative (TINA) é um “sound bite” atribuído a Margaret Thatcher, quando esta era primeira-minstra do Reino Unido e significa que não há alternativa às leis do mercado, ao capitalismo, ao  neoliberalismo e à globalização, os quais não são apenas necessários mas benéficos para toda a sociedade. Para Thatcher, os apoios socias estavam a asfixiar o desenvolvimento económico, pois os meios financeiros a eles destinados sugavam a economia real através dos impostos. A teoria dizia que, se o desenvolvimento económico fosse potenciado, todos acabariam por dele beneficiar. Com Reagan os Estados Unidos encetavam uma via semelhante. Podemos conjeturar se o crescimento teria sido maior ou menor com outras políticas, mas uma certeza podemos ter: quem beneficiou com o crescimento económico foi uma escassa minoria, os muito ricos tornaram-se ainda mais ricos. Os mais pobres continuaram muito pobres e a exclusão social aumentou.
Para lá desse objetivo fracassado, há outro aspeto importante que devemos questionar: deveremos considerar que os apoios sociais são dinheiro retirado à economia real? Ou será que há outra maneira de fazer as contas? Para responder a esta questão permito-me transcrever um texto retirado de um livro de Tony Judt “Quando os factos mudam”. Diz ele o seguinte:  
Sai mais barato dar esmola caritativas aos pobres do que garantir-lhes uma gama completa de serviços sociais a título de direito…mas receber esse tipo de assistência é notoriamente humilhante. De forma inversa, não é humilhante usufruir de um direito. Se temos direito a subsidio de desemprego, pensão de reforma ou de invalidez, habitação social ou qualquer outro tipo de assistência pública – sem ninguém estar a investigar se batemos suficientemente no fundo para “merecermos” ajuda – não nos sentimos envergonhados. No entanto esses direitos universais são caros.
E se tratarmos a humilhação como um custo, como um encargo para a sociedade? E se decidirmos quantificar o prejuízo causado quando as pessoas são envergonhadas pelos seus concidadãos antes de receberem as necessidades básicas de vida? Por outras palavras e se contabilizarmos as nossas estimativas de produtividade, eficiência ou bem-estar a diferença entre uma esmola humilhante e um benefício a título de direito? Talvez cheguemos à conclusão de que a prestação de serviços sociais universais, cobertura médica publica ou transporte publico subsidiado é realmente um modo eficiente em termos de custo para atingirmos os nossos objetivos comuns. Este exercício é inerentemente controverso: como é que se quantifica a humilhação? Qual o custo mensurável de privar cidadãos isolados de acesso a recursos metropolitanos? Quanto estamos dispostos a pagar para vivermos numa sociedade boa? Não se sabe, mas a menos que façamos estas perguntas, como poderemos ter respostas?


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O desemprego desceu? É urgente um governo de esquerda.

Hoje foi divulgada uma estatística que nos diz que o desemprego em Portugal desceu umas décimas! Os partidos da coligação de direita e a generalidade dos comentadores económicos exultam com este estrondoso êxito do programa de ajustamento.
Pois podem “limpar as mãos à parede”! O desemprego desceu, mas está longe dos valores do início do programa. O desemprego desceu porque subiu demasiado e algum dia tinha que inverter a tendência. O desemprego escusava de ter subido o que subiu se o programa de ajustamento tivesse sido outro que não este.
A inevitabilidade do programa, tal como foi implementado, não tem justificação racional. Equilibrar as contas públicas tinha sido possível sem a degradação da procura interna que levou à falência de muitas pequenas empresas.
Como devia ser sabido pelo governo 90% do emprego está nas pequenas empresas. Só um aumento da procura interna, como cuidado de implementar as medidas indispensáveis para acautelar o aumento das importações, pode gerar emprego.

Num inquérito realizado pelo INE aos empresários sobre a competitividade, a primeira causa apontada por estes, para não efetuarem investimentos foi a não existência de uma procura interna com significado. Inverter esta situação só é possível alterando as políticas “supply side” até aqui seguidas, o mesmo é dizer, alterando o governo.