segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Dois homens do espectáculo.

Oiço Passos e Portas e assusto-me! São dois sedutores com inigualável capacidade comunicativa, capazes de encantarem eleitores mais desprevenidos, mestres na demagogia e no iludir a agenda escondida que Pacheco Pereira tem vindo a denunciar. A política hoje é isto: fala-se do supérfluo, cala-se o essencial. A forma suplantou o conteúdo. Estamos no reino da fantasia, e da ilusão. Não admira que os líderes políticos sejam escolhidos pela sua figura, pelo tom de voz, pelas suas competências de vendedor. Numa entrevista na RTP2 a Paul Auster, quando o entrevistador lhe perguntou porque razão, na América, os intelectuais não conseguiam fazer-se ouvir, o escritor respondeu: “Nós bem tentamos mas sem sucesso. As pessoas preferem ouvir um actor de cinema a um escritor”. Ele deve ter razão pois já houve um actor de cinema que chegou a Presidente e outro que chegou a governador do Estado da Califórnia. Depois de o ouvir fui repescar um artigo da última Visão onde o diretor da revista, a propósito da campanha eleitoral apresenta uns excertos de um livro de Mário Vargas Llosa - “A Civilização do Espectáculo”. Transcrevo: A popularidade e o êxito conquistam-se, não tanto pela inteligência e pela probidade, mas sim pela demagogia e pelo talento histriónico. Assim dá-se o curioso paradoxo de que enquanto nas sociedades autoritárias é a política que corrompe e degrada a cultura, nas democracias modernas é a cultura – ou aquilo que usurpa o seu nome – o que corrompe e degrada a política e os políticos. O avanço da tecnologia audiovisual e dos meios de comunicação, que serve para contrariar os sistemas de censura e controlo nas sociedades autoritárias, deveria ter aperfeiçoado a democracia e incentivado a participação na vida pública. Contudo teve antes o efeito contrário. A função crítica do jornalismo viu-se em muitos casos distorcida pela frivolidade e pela fome de diversão da cultura dominante. Assustam-me Passos e Portas. Gostaria que fossem trabalhar de vez para Hollywood.

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